quarta-feira, 20 de julho de 2016

O erro de Brabham

Brabham cruza a linha de chegada e marca bons pontos. Mas ele está possesso. Garanto!

Se eu pedisse uma prova em Mônaco que o pilotou perdeu a vitória nos metros finais, já quase na bandeirada, talvez muita gente se lembrasse do caso do sueco-jamaicano Björn Wirdheim, na Fórmula 3000. Já se eu pedisse um piloto que bateu nos metros finais após ter se atrapalhado por um retardatário, perdendo a vitória, mas ainda assim chegando em segundo, acredito que muitos de vocês se lembrariam de JR Hildebrand, nas 500 Milhas de Indianápolis.

Todavia, o caso de hoje se encaixa em ambos os perfis. Trata-se da vitória perdida por absoluta bobeira do tricampeão Jack Brabham.

Mônaco, 1970.

As chuvas que caíram na pista monegasca nos treinos livres acabaram por não terem emborrachado tanto a pista quanto os pilotos gostariam. Todavia, na hora da prova, sol estava raiando no principado e a corrida foi disputada em pista seca.

Largada da prova. Amon sai bem, mas Stewart é quem lideraria. Brabham vem por dentro

Stewart era pole position, Amon o segundo, Hulme o terceiro e Brabham fechava a segunda fila. Rindt, de quem você ouvirá falar ainda neste post, saía de uma modesta oitava posição.

A prova começou a mil, com os carros não aliviando o da direita. E como de praxe naquela época, as quebras começaram a aparecer. Na volta 12 Ickx abandonava a corrida quando disputava a quinta posição. Dez voltas depois, Beltoise, agora em quarto, saia da disputa com problemas no câmbio. Nesta mesma passagem, Brabham forçava para cima de Amon e conseguia a segunda posição. Cinco voltas para frente era a vez de Stewart enfrentar problemas com seu Tyrrell. Com isso, Sir Jack herdava uma tranquila primeira posição.

Economizando, levou a prova em banho maria até quase o final, quando Amon e Hulme também enfrentaram problemas com seus bólidos. Há 18 voltas do fim, Rindt assumiu a segundo posição nove segundos atrás de Brabham, iniciando uma das maiores perseguições da história da Fórmula 1.

Tanto Brabham quanto Rindt andavam no limite, forçando ao máximo cada parafuso de seus carros. Rindt, mesmo com uma precária e defasada Lotus 49C conseguia tirar terreno de Brabham, que com o modelo 33 ainda conseguia segurar a onda.

Sem conseguir ter uma real chance de ultrapassar, o máximo que Rindt conseguia fazer era pressionar o experiente Brabham para ele cometer um erro. Já tricampeão, tal fato acontecer seria algo improvável. Mas se o jovem Jochen quisesse alguma coisa, essa era a única opção disponível no momento.

Brabham era um dos ídolos daquela geração

Na última volta, após saírem do "Túnel" e fazerem a "Chicane do Porto", pegaram a rápida "Tabac" à esquerda e aceleraram na "Reta Oposta", local hoje onde se situa os "Esses da Piscina". Só quem 1970 aquela Mônaco era mais veloz, só restando essa reta para a última curva da pista, a famosa "Curva do Gasômetro".

E foi nela que, por, talvez um excesso de zelo em fechar a porta para Rindt, ou uma atrapalhada que Denny Hulme, o retardatário, lhe deu, Brabham se moveu fora da linha ideal, indo para a direita, pegando sujeira, travando os freios e não mais conseguindo parar.

Veja a volta nesta incrível filmagem detalhada do exato momento do impacto. O que impressiona é a qualidade da imagem daquela época, muito boa para os padrões usuais, possuindo até helicóptero para filmagem.

Quem mais percebeu que o narrador foi avisado que o Brabham tinha ficado e ele não venceria mais a prova?

Mas uma coisa que a transmissão não mostrou foi como Brabham saiu daquele imbróglio. A internet diz, quase em sua totalidade, que Brabham meteu a ré e prontamente cruzou a linha de chegada.

Todavia, tais argumentos não correspondem 100% com a realidade. Brabham cruzou a linha de chegada 23 segundos atrás de Rindt, tempo suficiente para ele ser socorrido por fiscais de pista e ajudantes do local. Veja:

Brabham pendurando-se nos freios

Logo após o acidente com Courage passando ao fundo

Brabham parece estar olhando para seu pneu dianteiro esquerdo

A asa dianteira parece ter engaixado e precisou de ajuda extra para consertar

Pronto para sair... foram pouco mais de 20s, mas suficiente para ajudantes se aglomerarem

Após a grande c@g@d@, cruza a faixa final em segundo

Revista MotorSport de época relatando a última volta

Outro ponto bacana a se destacar foi a volta final mágica de Rindt, que conseguiu cravar, com sua caquética Lotus, o tempo de 1min23s2, 2s mais veloz que a melhor volta do ano anterior, feita por Stewart, obtendo o título de volta mais rápida da corrida. Reveja o vídeo acima mais uma vez e repare na tocada alucinada de Rindt.

Brabham, apesar de ter dominado esse começo de temporada, não conseguiu se manter entre os primeiros e perdeu muito ritmo após a corrida da Inglaterra. Ao contrário, Rindt vinha em uma fase estupenda de cinco vitórias na temporada (somente pontuou quando venceu) e foi campão mesmo após sua trágica morte nos treinos do GP da Itália, em Monza, quatro provas antes do término do campeonato. Brabham se aposentaria no fim do ano.

10 comentários:

Unknown disse...

Cara, quanta alegria ver este blog na ativa de novo! Bela história...

Rianov disse...

@luiz_eduardo_amorim muito obrigado... estou me divertindo novamente fazendo o blog...

Pedro Perez disse...

O diretor de prova ficou perdidinho! Nem deu bandeirada pro Rindt!

Rianov disse...

@pedro_perez completamente perdido... colocou na cabeça que só daria a bandeirada para o Brabham e esqueceu que o Rindt tava na cola e poderia passar...

Marcelonso disse...

Rianov,


Sensacional o post. Uma viagem no tempo.


abs

Rianov disse...

@marcelonso obrigado, meu caro. É feito para vocês! Grande abraço!

Mojo disse...

que felicidade ver o blog de volta à ativa!!

fabehr disse...

adoro esses carros, e Rindt é top5 de todos os tempos ;)
welcome back Rianov

Rianov disse...

@mojo espero vocês aqui mais vezes :)
@ faberh top5 acho muito, mas que era diferenciado, era sim! e certeza que ia ganhar mais títulos...

Anônimo disse...

Chegando só agora, muito atrasado. . .
Em primeiro lugar, cumprimentando-o pela volta, sempre em grande estilo!
Permita-me algumas considerações:
Stewart largou de March 701, assim como Amon e outros, o Tyrrell só estrearia no Canadá, ao final do ano.
A Lotus 49, apesar de haver estreado em 1967, foi campeã em 68 e venceu corridas em 69, sendo esta a sua última vitória em provas do Campeonato Mundial, por obra da tocada fenomenal de Rindt, que como o texto mesmo diz, pulverizou seguidamente o recorde da volta quando da perseguição à Sir Jack.
Portanto não era caquética, muito menos precária ou defasada, nenhum carro nessas "condições", mesmo com um piloto fenomenal, conseguiria entregar um desempenho à altura.
Aliás, foi a 3ª vitória seguida da 49 em Mônaco, após as 2 seguidas de Hill em 68/69.
Como o texto corretamente pontua, era a versão "C" do modelo, atualizada para aquele ano, e posteriormente haveria de ser substituída definitivamente pela nova e revolucionária 72.
Foi o próprio Rindt quem optou por usar a 49, até porque ainda não se sentia confortável na 72 ainda em sua primeira especificação.
Correria ainda com ela em Spa, circuito velocíssimo naquela época (ainda o é até hoje, apesar das mudanças sofridas), largou em 2º, chegou a liderar e depois abandonou por problemas de motor, prova de que o carro era rápido.
Finalizando, Emerson estreou com ela na Inglaterra e na prova seguinte, Hockenheim, outro circuito super veloz, porquanto sem as chicanes que foram criadas posteriormente, finalizou em 4º lugar, isto em sua 2ª prova na categoria!
Desculpe se me alonguei, mas achei justo e pertinente fazer esses acréscimos, sempre com a intenção de somar, jamais tentando polemizar contigo, ok!
Grande abraço.
Zé Maria